sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Análise do poema "A Cavalgada"

                             A Cavalgada                                                                                        - Raimundo Correia


A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...


Nesse poema, o poeta leva o leitor a acompanhar o trânsito de um grupo de fidalgos que volta de uma caçada. Primeiramente, pinta o cenário onde vai acontecer o episódio (1º quarteto); depois, evolui para a cavalgada propriamente dita (2º quarteto e 1º terceto) e, finalmente, fecha o episódio (último terceto). Essa é a interpretação imediata que temos do soneto. Há, entretanto, uma segunda interpretação, mais profunda, que se compara ao processo de existência. Nessa segunda interpretação, diz-se que "a cavalgada" tratada no texto não é um simples "galopar" propriamente dito, mas sim uma metáfora da estrada da vida, em que as pessoas vão embora de algum lugar mas acabam retornando tempos depois. Ficam felizes em determinados momentos de sua vida e vão, novamente, embora para outro lugar. 
Esse soneto pode ser interpretado como o processo de existência dos seres: eles nascem, seguem seus destinos, vivem em algum lugar, vão para longe e acabam voltando, fazendo isso incessantemente. Assim, pode-se dizer que com suas idas e vindas, as pessoas caminham pela estrada da vida.
Por tratar-se de uma
poesia Parnasiana, que tem como característica a impassibilidade, a frieza e pouca emoção, pressupõe-se que esse poema de Raimundo Correia também terá tais características. Entretanto, ao ler o soneto aqui analisado, percebe-se nitidamente uma ambientação romântica: trata-se de uma estrada "solitária" em um ambiente noturno, onde passam animais e pessoas que estão sempre em movimento mas que não permanecem nela por muito tempo, deixando-a, novamente, solitariamente banhada pela lua.
Há, no poema, elementos que o tornam sonoro: trata-se de um soneto decassílabo (contém dez sílabas poéticas) que possui rimas aos finais dos versos, tendo, como esquema,
ABBA ABBA CDE CDE

7 comentários:

  1. "estrada da vida" ?? "fidalgos" ?? puxa, esse poema é erótico! é uma relação a dois, no mínimo. À noite, desde o silêncio, atinge seu ápice na penúltima estrofe ("estala"; "aumenta"), depois o silêncio. é isso

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    1. Agradeço pela contribuição de sua interpretação!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Erótico? Olha, eu sinceramente não acho que esse poema seja erótico. Sobra erotismo nos parnasianos, é claro, mas não sei se os poemas usariam metáforas muitíssimo refinadas - nesse aí não consigo enxergar nenhuma (para a mulher, por exemplo).

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  4. Uma curiosidade, Bárbara: onde você cursa (ou cursou) Letras? (Seria Letras o seu curso, não seria?)

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    1. Olá, Lucas. Cursei Letras, sim, iniciei em 2010 e terminei em 2014. Em 2015, ingressei no Mestrado, também em Letras. Estudei/estudo no Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Minas Gerais.

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  5. Eu gostei mais eu nao acho que esse poema seja puxado pro lado do erotismo ele é focado na viagen de uma pessoa que cruza com outras e ouve barulhos eu ate acho o personagem dar muita intensidade nos versos as palavras "soturno"e "estrepto" nao sao nescessarias. Obrigado pelo seu ponto de vista em relacao ao poema "a cavalgada " de raimundo correia

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